Quem viaja deseja ir para um lugar interessante, diferente e com a possibilidade de vivenciar experiências e emoções únicas. As boas lembranças do passeio vão permear não somente os celulares e máquinas fotográficas, mas, também, a memória de cada turista.
Mas e quando esse destino foi palco de um acontecimento caótico? É possível, mesmo assim, transformá-lo em um atrativo turístico novamente? Esse é um ponto bastante sensível, visto que a imagem do local já está superexposta nas redes sociais – e de forma bastante negativa.
Recentemente vimos isso da pior forma possível: uma tragédia em Capitólio, no interior de Minas Gerais, tirou a vida de muitas pessoas que só queriam fazer um passeio. Um cânion, ou penhasco que permeia uma área de água, desabou sobre algumas lanchas que estavam no local.
Capitólio é um destino mineiro conhecido justamente por esse tipo de passeio, que atrai turistas do mundo inteiro para testemunhar suas belezas naturais. Mas, com o acidente, a imagem da cidade sofre crises.
A primeira coisa que devemos pensar nesse contexto é que a recuperação do roteiro para o turismo não deve se sobrepor aos infortúnios dos turistas e da população local. É preciso respeitar a dor e o luto de todos. Por isso, qualquer ação para retomada do turismo e reversão da imagem negativa deve ser conduzida com muita cautela, bom senso e empatia.
É viável transformar cenários caóticos em destinos turísticos?
Quando acontece alguma tragédia, a superexposição nas mídias, principalmente nas redes sociais, tende a afastar o turista do destino. São muitas imagens, entrevistas e conteúdos de viés negativo – e eles acabam causando um certo temor.
O caso recente de Capitólio ilustra muito bem essa dualidade. O local é um importante destino turístico, bastante procurado por suas belas cachoeiras. A atração principal, o Cânion de Furnas, com suas paredes de pedras invadidas pelas águas esverdeadas do lago de Furnas, foi o cenário da tragédia, ocorrida na primeira quinzena de janeiro de 2022.
O acidente comoveu todo o país e, diante desse cenário caótico e das imagens divulgadas amplamente nas mídias, muita gente se perguntou: qual a probabilidade das pessoas voltarem a fazer turismo na região? Por mais que o lugar seja um espetáculo da natureza, o receio de visitar o lugar da tragédia é sempre muito forte.
No entanto, é preciso, a médio e longo prazo, repensar a retomada do turismo em cenários caóticos, porque a própria cidade precisa que os visitantes continuem chegando.
Muitos casos de destinos que passaram por tragédias foram revertidos e, hoje, são atrativos turísticos, graças a um trabalho de planejamento e divulgação correta das informações.
Veja dois exemplos:
World Trade Center – Nova York
Quem não se lembra do fatídico 11 de setembro de 2001, em que quatro aviões comerciais americanos foram sequestrados? Dois deles foram lançados contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York.
Foram quase 3000 mortos e mais de 6000 feridos no ataque que mudou, em vários aspectos, o rumo dos Estados Unidos e do mundo. Por ser um destino bastante procurado, logo após o atentado, o setor aéreo americano foi fechado e o turismo interrompido, passando a focar mais na segurança das aeronaves e outros meios de transportes.
Muitas medidas preventivas foram introduzidas, com o objetivo de garantir a segurança do viajante, evitando ameaças terroristas, como tirar sapatos e metais para só depois passar pelo scanner.
Essas e outras medidas passaram a dar mais segurança ao turista que pode viajar para o país com muito mais tranquilidade.
Brumadinho – Minas Gerais
O rompimento da barragem de Brumadinho foi um dos maiores desastres ambientais da história do nosso país. A liberação de 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos da mineração devastou a vegetação, matou inúmeros animais, alterou a composição do solo original da região e afetou a qualidade da água do rio Paraopeba. Como se não bastasse, a lama causou a morte de 270 pessoas, das quais seis continuam desaparecidas.
Brumadinho era considerada um destino turístico de relaxamento. Além das cachoeiras e hotéis-fazenda, a cidade é repleta de monumentos históricos, gastronomia e cultura, como o famoso Museu de Inhotim. Contudo, depois da tragédia, a população local viu tudo ser paralisado.
Devido à dimensão da tragédia e sua repercussão em todo o mundo, a recuperação do turismo na região está sendo lenta. Primeiro porque a cidade não está pronta para receber viajantes, já que muita lama ainda está espalhada em boa parte do território; segundo, pelo impacto emocional que envolveu os habitantes do município.
Em terceiro lugar, os próprios turistas passaram a temer o destino, com receio de outro rompimento. As visitas também foram evitadas para manter viva a lembrança de um dia tão triste.
Depois de toda essa tragédia, o fomento ao potencial turístico foi um dos caminhos encontrados para que o destino pudesse diversificar a economia, gerar emprego, renda e diminuir a dependência da mineração. Com base no diálogo entre órgãos públicos, moradores e agências de desenvolvimento, como o SEBRAE, projetos de incentivo ao setor estão sendo implementados pela mineradora responsável pelo rompimento da barragem. Segundo ela, o objetivo é minimizar os impactos causados pelo crime ambiental.
Reverter a imagem de um destino turístico que passou por uma tragédia não é fácil e precisa ser muito bem planejado. No processo é preciso envolver não somente órgãos públicos e entidades de desenvolvimento, mas, principalmente, a comunidade afetada. Afinal, é ela quem vai dar o tom da conversa e expor as reais necessidades de retomada do turismo na região.
E você, conhece algum caso de turismo que foi levantado após um cenário caótico? Deixe seu comentário e vamos continuar essa conversa.