Durante os dias 07 a 10 de janeiro de 2020, tive a oportunidade de participar de um dos mais importantes eventos de pesquisa e inovação em turismo: ENTER 2020. Organizado anualmente pela International Federation for IT and Travel & Tourism (IFITT), o evento reúne não só os principais pesquisadores de inovação em turismo mas também gestores do setor público e privado, gerando um espaço de troca de conhecimentos e excelente network para os participantes.
Dentre as diversas palestras que participei e conversas com profissionais do setor durante o ENTER 2020, elenquei 5 temas abordados que acredito serem os mais atuais para os debates sobre o futuro do turismo:
1 – Turismo de engajamento:
O famoso turismo de experiência no qual o turista tem a necessidade de vivenciar a realidade local já está se transformando. Nos próximos anos, os turistas não terão apenas a necessidade de experimentar diferentes realidades mas fazer parte delas de forma engajada, participando da construção do produto turístico. Cada vez mais, procurarão fazer com que suas viagens se tornem também um valor para a comunidade, especialmente pautados nas causas sociais nas quais ele acredita. Não seria legal se o seu turista pudesse, durante a sua viagem, contribuir na criação de produtos turísticos através da sua experiência, retornando benefícios para a sociedade? E como criar estratégias para que o seu cliente se engaje cada vez mais com sua marca de uma forma responsável?
2 – Sustentabilidade na prática:
Não há como discutir o turismo para os próximos anos sem se basear nas questões de sustentabilidade, sejam elas econômicas, sociais, ambientais ou culturais. O turista está se preocupando cada vez mais com o lixo produzido, razões sociais para gastar seu dinheiro, retorno de projetos sociais durante sua estadia, selos de qualidade e preservação ambiental, diminuição da produção de carbono e principalmente mudanças climáticas. São diversos casos de resorts de inverno afetados pelo calor, aumento dos níveis do mar prejudicando o turismo em ilhas, aumento de áreas desérticas e tantos outros que fazendo com que as pessoas e governos e turistas se questionem em como podem contribuir para minimizar esses problemas, desde utilizando transportes menos poluentes até a diminuição do consumo de produtos industrializados e maior consumo de produtos orgânicos e artesanais.
3 – Ética e moral na inteligencia artificial (IA):
Todos nós sabemos que a IA veio para ficar e que está se tornando uma revolução nos serviços tuísticos. Porém muito ainda se questiona a forma como essa inteligência é trabalhada. Grande parte dos assistentes virtuais por exemplo, são criados apenas com perfis femininos, gerando agressões verbais entre o usuário e a plataforma de forma constante, além de incentivar comportamentos não adequados como xingamentos e práticas que diminuem o papel da mulher na sociedade. Ferramentas de reconhecimento facial e que relacionam o perfil do usuário com palavras de busca ainda prejudicam minorias raciais e religiosas, classificando-os a partir de características preconceituosas. Também há casos de violência física contra robôs de atendimento ao turista simplesmente para ver “o que ele vai falar se for agredido”´. Trabalhar a IA de forma mais diversificada e justa é um grande desafio para o turismo.
4 – A automatização de serviços não acabará com seu emprego:
As novas gerações não querem mais realizar trabalhos operacionais, como por exemplo dirigir caminhões de carga em portos ou trabalharem em serviços de alimentação às 2h da manhã em aeroportos pelo mundo. Assim, diversas funções essenciais para o turismo estão ficando sem mão de obra, fazendo com que as empresas invistam na automatização desses serviços. Carros autônomos de carga já existem na China e protótipos de restaurantes e hotéis atendidos por robôs já são uma realidade para suprir os serviços que o ser humano não quer mais fazer. Os turistas sempre preferem a presença humana nas suas viagens, mas em alguns casos, a automatização irá preeencher lacunas de atendimento. Novas funções mais intelectuais e menos operacionais serão criadas, alterando a lógica do atual mercado e privilegiando a criatividade do trabalhador.
5 – Problemas e soluções criadas a partir do uso de dados:
O uso de dados no turismo e em qualquer planejamento social sempre foi um requisito obrigatório, mas que alguns setores ainda preferem contar com o “achismo”. Com um grande volume e acesso a diversas informações de usuários, concorrentes e mercado, não há nenhum espaço para empresas e destinos que não utilizarem a coleta de dados em inteligência de negócios. É apenas a partir dos dados que os gestores e empresários podem saber o que está acontecendo em seu território, criando estratégias para melhoria de serviços. E os dados também servem para identificar novos problemas a serem resolvidos, criando novas possibilidades de negócios, tecnologias, e soluções inovadoras que podem alterar a forma da oferta de um determinado produto. Portanto, se você ainda não planeja seus serviços por meio de dados e informações, pode desconsiderar a premissa número 4.
E você, acredita em mais alguma tendência para o turismo nos próximos anos? Deixe seu comentário e participe! E caso queira participar do próximo ENTER, já pode se planejar para visitar a cidade de Nankai, na China, em Janeiro de 2021 (e conhecer a sociedade que ditará as principais tendências de inovação em turismo dos próximos anos…)