Você já deve ter visto em alguma viagem que existem cidades que cobram taxas de turismo só para que o turista entre em seus limites. Em troca, oferecem alguns benefícios.
Se ainda não viu, é questão de tempo. No Brasil, essa é a realidade em lugares como Fernando de Noronha (PE), Jericoacoara (CE), Morro de São Paulo (BA) e na maioria dos Parques Nacionais que são protegidos pelo governo ou empresas privadas. Todas essas localidades sobrevivem, justamente, do turismo, e a taxa acaba se tornando mais uma forma de manter o cenário adequado para quem o visita.
No exterior, essa ideia está indo além da simples cobrança na taxa pela agência de turismo ou check-in no hotel.
A região de Ticino (Suíça), por exemplo, oferece aos turistas o Ticino Ticket, que tem uma taxa de 5 euros por cada dia em que o viajante ficar em alguma cidade da região. Em Lugano, por exemplo, esse valor é pago diretamente ao hotel onde se hospeda e, em troca, o turista recebe o cartão – que dá acesso ilimitado a todo o transporte público da região (dentro da cidade ou entre as cidades), que inclui trem, ônibus e funicular.
É como se, pela taxa de 5 euros diária (cerca de 20 reais), o turista pudesse conhecer todos os pontos turísticos sem limite de transporte, além de garantir a chance de passear pelos pontos turísticos de toda a região italiana da Suíça sem precisar pagar absolutamente nada a mais por isso.
Em linhas gerais, isso significa que, por cinco dias de passeio em Lugano, o turista é obrigado a desembolsar 25 euros de taxa-turismo, mas a taxa é, automaticamente, revertida ao benefício do transporte. Quem conhece a Suíça sabe muito bem que isso não é trocar gato por lebre…
Transformando a despesa em surpresa
Ninguém gosta de pagar taxas, e ninguém gosta de saber que vai ter que pagá-las em uma cidade que não é a sua, bem no meio da viagem.
Contudo, com a comunicação certa – e os resultados visíveis –, uma taxa vinculada ao turismo pode passar de um “gasto obrigatório” a investimento turístico, e surpreender os viajantes. Afinal, quando a pessoa sabe que terá que desembolsar um valor, mas para um retorno certo e imediato, até mesmo a ideia pré-concebida de “taxa” muda de figura.
Tomando novamente Lugano como exemplo, imagine que a taxa vai garantir que o visitante conheça os principais pontos turísticos a um preço fixo, podendo pegar os meios de transporte públicos que desejar, quantas vezes quiser. Isso é uma grande vantagem, principalmente se as pessoas quiserem descansar ou se locomover de trem ou ônibus pela cidade para viver melhor a rotina de um morador.
Assim, o visitante se sente motivado a conhecer novos lugares que não estavam no roteiro inicial de sua viagem, permanecendo mais dias na região e gerando mais dinheiro na economia.
Pagar um ônibus ou trem a cada giro poderia custar bem mais do que cinco euros por dia. No fim, ter um cartão da cidade rende até boas fotos…
Por outro lado – o lado de quem cobra a taxa – fica a chance de inovar no turismo com o recolhimento de informações a cada turista que visita a cidade. Se você cede um cartão para cada um, cadastrando seu nome, país de origem e idade, vai conseguir saber o que preferem as pessoas de cada faixa etária e parte do mundo apenas pelo espelho do que elas escolhem visitar quando estão na sua cidade. As informações dos visitantes podem ser usadas para diversos tipos de promoção do destino ou incentivar maiores descontos em atrativos menos visitados.
Dessa forma fica até mais fácil pensar em outras formas de transformar a taxa cobrada em benefícios para o turista, seja conservando um ponto turístico específico ou melhorando alguma via de acesso.
Nos exemplos brasileiros, isso é bem claro: cada lugar é tido, pelos turistas, como um paraíso, e o principal objetivo das cidades é manter-se com esse posto. Por isso, a taxa não é revertida em um benefício palpável, como o transporte, mas sim na limpeza das ruas, dos mares e nas iniciativas que mantém toda a cidade como um patrimônio natural.
O que cada município fará com a taxa de turismo é de ordem de suas necessidades, mas uma coisa é certa: se for cobrá-la, priorize o benefício. Caso contrário, a frustração será o principal item que seu visitante trará na bagagem de volta.