Se você já foi ao Louvre (ou conhece alguém que tenha ido) já percebeu a dificuldade de ver de perto o famoso quadro da Monalisa. O local fica tão cheio de gente, com tantas máquinas fotográficas (e celulares) em punho que é até difícil, em um primeiro momento, notar que o quadro para a qual a Monalisa olha o dia inteiro, “As Bodas de Canaã, de Veronese, é o maior quadro do museu inteiro.
A arte, de 6,6m x 9,9m, faz com que a obra-prima de Leonardo DaVinci pareça um retrato 3×4. Poucos, no entanto, percebem essa grandiosidade, já que ocorre certo congestionamento e excesso de atenção apenas a uma parte da sala.
Nesse caso ilustrativo o grande “prejuízo” fica por conta dos turistas que, obcecados por um único quadro, deixam de ver valor em outras maravilhosidades proporcionadas pelo museu.
Mas, na vida real, o excesso de turistas em um único local criou um novo termo, cunhado de overtourism, para designar locais que recebem tantos turistas em pontos específicos que isso acaba gerando danos ao ecossistema. Se você é leitor assíduo aqui do blog já sabe que isso cria barreiras reais ao conceito de sustentabilidade que diversas cidades do mundo buscam para ganhar o título de “cidades inteligentes”.
O lado negativo do turismo
O overtourism pode ser considerado o lado negativo do turismo, uma vez que as consequências do alto volume de visitas prejudica o ecossistema local de forma que a qualidade de vida, de ambiente e de exposições culturais fica seriamente comprometida.
Com tanta gente indo e vindo, entrando em parques, subindo em edifícios e lotando pontos turísticos, fica difícil aos anfitriões preservar essas áreas e aos turistas aproveitar o que elas podem oferecer de melhor.
Algumas cidades europeias já sofrem desse “mal”, como Barcelona, Paris, Berlim e Veneza.
A pergunta que fica é: se as cidades não podem se dar ao luxo de, simplesmente, recusar os turistas, o que fazer para que o overtourism não ocorra, a partir da administração turística local?
Veja alguns exemplos do que tem sido feito em metrópoles com esse problema:
Amsterdam (Holanda): o governo proibiu a abertura de novos hotéis dentro do cinturão dos canais, que é onde fica concentrada a maior parte dos turistas, e também impôs algumas restrições quanto à locação de imóveis pelo AirBNB, além de impor um novo imposto sobre o turismo.
Barcelona (Espanha): as autoridades da cidade faz um controle mais rigoroso de aluguel de imóveis em épocas de férias, registrando os anfitriões na prefeitura antes da locação ser liberada. O AirBNB paga multas diárias caso anuncie na plataforma apartamentos não licenciados pela prefeitura.
Botsuana: o país africano, reconhecido e requisitado mundialmente por seus safáris, introduziu nas políticas de turismo um imposto de 30 dólares sobre todos os visitantes ao país. O objetivo é arrecadar dinheiro para conservar os parques naturais, que são amplamente visitados.
Onde ir e como minimizar o overtourism?
Existem duas formas de evitar o overtourism: a primeira é não visitando as cidades que estão lotadas – algo um tanto quanto óbvio, mas difícil de fazer às vezes. Afinal, se você quer conhecer o Coliseu, só conseguirá fazer isso em Roma.
Nesses casos, a melhor solução é ser um turista responsável, viajando de maneira que os impactos positivos sejam aumentados enquanto os negativos sejam diminuídos.
Uma das muitas formas de fazer isso é tentando garantir que seu dinheiro fique na comunidade local, pagando as taxas necessárias para conservação de ambientes e optando por acomodações locais, seja em pousadas ou pequenos hotéis, ao invés de utilizar serviços de redes mundiais.
Nos passeios, opte por guias locais e coma em restaurantes que são típicos da cidade. Ao invés de comer um McDonalds em Paris, por exemplo, tente se deliciar com os sanduiches de bistrôs genuinamente parisienses.
Em outras palavras: viaje para aproveitar o que um local aproveitaria.
Mas se o seu olhar de turista muda quando vê mais impostos ou restrições a cidades que gostaria de visitar, uma das possibilidades é evitar viajar até eles em época de alta temporada. Já a melhor delas é mirar em outras freguesias e escolher outros destinos onde o overtourism ainda não é um problema.
Aqui vai uma listinha para te inspirar:
- Emilia-Romagna (Italia)
- Cantabria (Espanha)
- Friesland (Holanda)
- Provence (França)
- Dundee (Escócia)
E isso só na Europa, hein? Saindo um pouco do “roteiro padrão” de turismo a esses e outros países, que muitas vezes contemplam só a capital, você pode descobrir novas maravilhas de forma bem tranquila e aconchegante, sem se preocupar com uma multidão dividindo o espaço público com você.
Talvez perceba, exatamente ao abraçar o novo, aquilo que ninguém percebeu ainda, qual é o verdadeiro significado do sorriso torto de Monalisa, olhando diária e incansavelmente para a maior obra do Louvre – que, apesar de ser pouco apreciada pelos turistas, é de uma beleza infinita. Assim como muitas cidades “ocultas” do mundo.