Monteriggioni é uma cidade italiana que poderia sobreviver turisticamente apenas por ser uma cidade italiana, a uma hora de carro de Florença, uma vez que é muito charmosa com sua arquitetura medieval e povo hospitaleiro.
Contudo, ela resolveu fazer mais para atrair turistas do mundo todo, e o tiro acertou o alvo em cheio: Monteriggioni promove anualmente uma Festa Medieval onde, aproveitando os cenários “naturais” da Idade Média que já a cidade já tem, os nativos se vestem a caráter e fazem uma série de encenações para promover aos visitantes uma viagem no tempo.
A dedicação em fazer a festa é tanta que, por um dia, até a gastronomia de toda a cidade muda para os pratos típicos da era medieval, fazendo com que a experiência seja completa e satisfatória.
Afinal, sem essa festa, quem garante que os turistas veriam o vilarejo com os mesmos olhos? Tão perto de Florença e Sienna, a cidadezinha medieval poderia, muito bem, ser esquecida no roteiro…
Esse é um exemplo bem sucedido de como eventos de turismo podem ajudar uma cidade a se erguer no setor para além de suas belezas naturais, arquitetura ou potencial para cidade de negócios. Dessa forma, é possível pegar um ponto forte do local e transformá-lo no principal atrativo de visitas – o que, também, movimenta a economia e gera mais oportunidades para os moradores locais.
Mas como esse exemplo pode ajudar minha cidade?
No Brasil, temos cidades que tem um apelo cultural muito forte, mas que por motivos óbvios não podem potencializar esses recursos através de chamarizes mais… descolados, digamos. O que fazer, então?
Uma das formas de fazer um evento criativo ser forte é utilizar o nome da cidade para receber eventos que poderiam acontecer em qualquer outro lugar do mundo – mas que, hoje, os turistas não imaginam isso em nenhum outro lugar, a não ser naquele.
Quer um exemplo? O Festival de Gastronomia de Tiradentes: a cidade, de pouco mais de 10 mil habitantes, tinha tudo para ser apenas mais uma cidade histórica no interior de Minas Gerais. Conservando a arquitetura colonial, por anos foi um bom destino para “dar uma passadinha” enquanto as pessoas iam de algum ponto para São João del Rei.
Hoje, graças a eventos como o Festival de Gastronomia, a cidade reverteu o jogo e virou o ponto principal da atenção turística na região. É caro e desejável estar na cidade em agosto, quando o festival ocorre, e torna Tiradentes um destino único. Outras boas sacadas da cidade são o Festival de Cinema e o Encontro de Motos.
A CCXP (Comic Con Experience) é outro programa que mostra o turismo de eventos se tornando criativo. São Paulo já é um grande hub de negócios, sendo a maior cidade brasileira a receber turistas para turismo relacionado ao trabalho. Por que não transformá-la, então, na sede da maior convenção nerd do mundo?
Desde 2014 a CCXP carrega milhares de pessoas a São Paulo, no mês de dezembro, para desfrutar de um ambiente voltado para quadrinhos, filmes e cultura pop em geral. Ela virou a segunda maior Comic Con do mundo, em número de pessoas e em espaço físico, perdendo apenas para a original de San Diego – e à frente até de gigantes como a de Nova York.
Essas cidades sabiam que seus eventos seriam um grande sucesso? Provavelmente não. Muitas coisas, no turismo, são tentativa e erro: você percebe a demanda, tenta criar um evento interessante e vê se aquilo deu certo.
Dependendo da resposta do público, sua cidade poderá ser a próxima referência turística de alguma coisa muito específica. E é por isso que Monteriggioni vira um ótimo exemplo para ser seguido para expressar toda sua criatividade: apesar de, no Brasil, não podermos nos utilizar dos mesmos recursos (arquitetônicos) que ela, fica a lição de que, sem testar alguma coisa, podemos ficar sempre em segundo plano na mente do turista.
Sendo totalmente criativos, no entanto, podemos virar o jogo. E é isso que importa na era do turismo de experiências.